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Monday, January 24, 2011

já a noite caiu. eu estou aqui sozinho
no carro, fechado
ninguém comigo
nada
por detrás das janelas, vazias
sonho
sonhos que existem em mim
para lá das janelas
o mar
ninguém comigo
nada
nem o bater das ondas
nem a espuma
nem a frescura da água
nem o calor do incêndio
nada
o mundo passa lá fora
o vento e a brisa
os peixes mortos e os vivos
os navios que partem e os que chegam
ouço lá fora
os gritos
as gargalhadas
confidências de amor do carro do lado
o canto dos passarinhos nocturnos
o ruído que passa
todos passam lá fora
e comigo
ninguém, nada
e os gritos de ódio
e a raiva que escorre pelos cantos da boca
seres vazios
homens vazios
que riem ou que choram
a beleza dos astros
todos lá fora
todos para além de mim
e para dentro de mim
e comigo
ninguém, nada
não tenho fome
nem frio
nem gozo nem vivo
sofro e amo
e estou preso
nesta prisão que criei
porque eu me prendi
porque me prenderam
porque não quero seguir caminhos já feitos
trilhos abertos
porque não quero ter compaixão
por quem não possa socorrer
porque não quero mais lutar
nas inconstâncias do ser
porque não quero a vossa luz
nem o vosso caminho
nem a luz
nem o caminho
NEM esquecer
prefiro a escuridão desta minha prisão
ficar fechado neste sonho
só quero sonhar
aqui
onde não chega o barulho do mar
e aqui
ninguém comigo, NADA
só a escuridão
e nada aqui entra
neste sonho em que me prendi