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Friday, December 30, 2011

queria apenas
num sitio qualquer
estar no teu colo
em silêncio
e que
nesse silêncio
um beijo bastasse

Tuesday, December 27, 2011

caminho

we all have goals for some age in our life
and, at the goal's age, i tremendly fail almost all
i've so many memories, so many dreams
dreams that need to be unfolded, memories that can't be forgotten

there's a rope pulling me, and it's almost in my head
punishing me for my mistakes
and i have so many

i realize that, there isn't much more
for me to offer
besides myself

happy new year!

Wednesday, November 30, 2011

os teus olhos têm a serenidade da angústia
o horizonte longínquo em que os teus olhos se espraiam
é o oceano de todos os meus anseios

amo-te e odeio-te
sem ambivalências ou paradoxos

diga-mos
o meu ódio é aparente
visceral até

o meu desejo é amar-te
mesmo sem retorno

mas afinal, porquê?

"nós só somos o que fazemos..."

disse eu eloquentemente um dia
pena
que para quem amamos
por vezes o que somos
significa um grande NADA

e por vezes
alguém NADA
é o TUDO...

sapere aude!

fail more
fail better

só caindo aprendemos
só perdendo
damos valor

queria eu que Deus me explicasse
o PORQUÊ!?

deste meu prender
deste meu
CRUCIFICAR

rasteiro é o destino do Homem
incompreensível
é o meu!

Tuesday, November 29, 2011

círculos

"já não acredito nos Homens, só os ideais são ricos, belos e apaixonantes"
1965, joão d'arruda

ontem... quase que esta máxima caía, para mim, por terra, mas o quase fica bem cá dentro, os motivos que me levam a aprisionar este quase, são tão complexos como a frase transcrita

na realidade, permanecermos fieis a nós, coerentes com o nosso realizar, é do mais difícil de conseguir, como tal, parecemos excêntricos, incompreensíveis, aos olhos dos outros

a simplicidade do gesto, o amar um objecto sem valor, ou algo que nos satisfaz num breve instante, apenas e só, pelo gesto maior de quem nos deu, das memórias que nos induz: o cheiro, o sabor, o toque. no fundo,  amar o gesto per si, amar a pessoa, o Homem é amar os seus ideais.

Thursday, November 3, 2011

gostar, é a melhor maneira de ter
ter, é a pior maneira de gostar

Friday, October 14, 2011

natural blues

vera hall

troubles so hard

Uma das mais bonitas músicas que o MOBY nos deu a conhecerr é afinal de uma grande senhora... Vera Hall, canta, sem música, fazendo-a, apenas com a voz... :)


Ooh Lordy, troubles so hard
Ooh Lordy, troubles so hard
Don't nobody know my troubles but God
Don't nobody know my troubles but God

Went down the hill
Other day
My soul got happy
and stayed all day

Ooh Lordy, troubles so hard
Ooh Lordy, troubles so hard
Don't nobody know my troubles but God
Don't nobody know my troubles but God

Ooh Lordy, troubles so hard
Ooh Lordy, troubles so hard
Went in the room
Didn't stay long
Looked on the bed and,
Brother was dead

Ooh Lordy, troubles so hard
Ooh Lordy, troubles so hard
Don't nobody know my troubles but God
Don't nobody know my troubles but God

Ooh Lordy, troubles so hard
Ooh Lordy, troubles so hard

Wednesday, August 17, 2011


valor

há coisas que não custam dinheiro
mas, nem por isso fáceis de encontrar

há gestos que não têm preço
mas nem por isso fáceis de dar

há quem tenha porque ama
há quem ama porque tem

queremos correr em conjunto
ou queremos ser perseguidos

queremos respirar
ou queremos ter medo
queremos sorrir
abraçar, pular, girar sem olhar para o lado

compromisso com liberdade
não liberdade acorrentada

Wednesday, August 10, 2011

grandes, sem se ver

este texto é sobre um grande homem, daqueles que com a força duma vontade extrema conseguem levar o mundo, o seu mundo, a um porto tão seguro que tantos apenas aspiram chegar...
há momentos da nossa vida em que temos de transparecer talvez uma força que não temos, uma frieza ou indiferença perante o que nos rodeia, trabalhar, de sol a sol, num ou em vários ofícios, para que os nossos, Os Nossos, não nós, mas sim os nossos, possam despreocupada, mas não levianamente, atingir os objectivos a que se propõem, os desafios, a realização pessoal.
pessoas simples, de um tratar simples, aparentemente inacessíveis, não por despeito, talvez por vergonha, por um sentir que não é como os outros, que não sabe, que não vê, que não leu, que sei lá, nunca viu...
homens de força, não choram, diz-se, por aí, entrar, no mundo sentimental, da sensibilidade de alguém assim, é um previlégio que não sei definir.
viver, sem enaltecer o que somos, é o que sinto, sentir como somos, é como vivo.


sentir a lua


Friday, June 3, 2011

voar

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo. 
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos. 
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso. 
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE! 
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. 
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer: 
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

Monday, May 30, 2011

antónumos e synonymum

obsessão vs dedicação
amor vs ter
ser vs existir
força vs pequeno
nome vs personalidade
identidade vs tudo

pergunto-me onde te perdeste?

Monday, May 16, 2011

além

em sequência das linhas anteriores...

por mais que corra estás sempre além
por mais que anseie estou sempre aquém

eu é que devia fugir... a correr sem nunca ter olhado para trás... mas não. tal como escrevi um dia:

crucificados... Ele por compaixão, Eu porque não consigo fugir... não há verdade mais lacerante que esta!

disse que o passado não importa.... mas que somos nós que não o que fomos? Poderíamos ser o que ainda não sabemos?

algum dia, em tempo algum, não te permiti ser quem tu és, ver quem quiseste ver, falar com quem quiseras?

grandes... somos poucos... pequenos... é só quem quer!

Sunday, May 15, 2011

linhas

não me arrependo de nada do que escrevi, harmonia de forma e coerência de conceito

Monday, May 9, 2011

pilaf

2 cups uncooked basmati rice (or long grain rice)
4 teaspoons unsalted butter, divided
1/2 cup shelled pistachio nuts
1 cup chopped leek (with pale green part), or onion
Two 2-inch cinnamon sticks
5 cloves studded on a piece of leek or onion
3 cups turkey stock or chicken stock (or more)
Salt
1 Roma tomato, chopped
1/2 cup golden raisins
1/2 cup loosely packed fresh mint leaves, finely chopped
1/2 teaspoon ground allspi
1/2 teaspoon ground cinnamon

enjoy!


Thursday, April 21, 2011

sometimes it hurts

procuro, a cada situação que vivo, associar qualquer momento a uma palavra, frase, poema ou música, nestes dias, dei por mim a pensar no que os Tindersticks cantam nesta sua "sometimes it hurts" quando visito um local tão especial... "you're waisting your time, coming around here, what got you to thinking ... I had a different song [...] but what's good for me, it's not necessarly for the best...":



Friday, April 15, 2011

travelling light

30s para Marte

curioso problema de escala, fazendo uma aritmética simples, convertendo o tempo e o impacto de 1 ano face aos meus 34... são afinal 30s... o tempo, para chegar até Marte...

Wednesday, April 6, 2011

entendo-te

quero que saibas que
hoje
e só apenas hoje
sim, porque a aprendizagem vem com a experiência
sei o que sentiste naquele dia
quero que saibas
que hoje sei
porque não queres que te toque
porque não queres que te olhe nos olhos
hoje sei
a dor que sentiste

Tuesday, April 5, 2011

quero que saibas uma coisa

se olho a lua, os tarrotes saltitantes num qualquer jardim, 
se finjo tocar o Sol vermelho do entardecer, ou procuro o brilho

dos teus j'olhos nas estrelas,tudo me leva a ti...
como se tudo o que existe
aromas, luz, calor, chuva, sorrir,
fossem pequenos barcos que navegam em direcção

ao mundo que criei de ti

Se consideras violento e louco o vento que passa na minha vida

se pensas que estas montanhas por onde corre o vento são demasiado altas e intransponíveis
e se decidiste deixar as margens do coração no qual eu tenho raízes criadas por ti
com a força que eu sei ver em ti
lembra-te
que neste dia
a esta hora
eu levantarei os meus braços e as minhas raízes partirão em busca de outra terra

mas
se a cada instante
a cada passo que dás
sentires que a nós estás destinada com implacável doçura
se a cada dia olhares a Lua, cheirares uma flor para me encontrar
então meu amor, minha vida (como te disse um dia)
em mim todo este fogo se reacenderá
porque em mim nada de ti se apagará ou esquecerá
e o meu amor estará nos teus braços



Xano

Monday, April 4, 2011

espelho

poema do lavrador do Pedro Barroso

É muito do reflexo do que por aqui se passa, o maestro, num gesto maior consegue sempre, nas suas palavras dizer tanto em tão pouco...

Tuesday, March 22, 2011

é proibido

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo das nossas lembranças

É proibido não nos rirmos dos problemas
Não lutar pelo que se quer
Abandonar tudo por medo
Não transformar sonhos em realidade


É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague pelas nossas dúvidas ou o mau-humor


É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessitamos deles


É proibido não sermos genuínos diante das pessoas
Fingir que elas não te importam

É proibido ser gentil só para que se lembrem de nós
Esquecer aqueles que gostam de nós
É
 proibido não fazer as coisas por si mesmo
Não crer em Deus e fazer seu destino
Ter medo da vida e dos seus compromissos
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro


É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar
Esquecer os seus olhos, o seu sorriso, só porque os seus caminhos se
desencontraram
Esquecer o passado e pagá-lo com o presente


É proibido não tentar compreender as pessoas
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua
Não saber que cada um tem seu caminho e a sua sorte.


É proibido não criar a sua história
Deixar de dar graças a Deus pela vida
Não ter um momento para quem necessita de si
Não compreender que o que a vida dá, também tira


É proibido não procurar a felicidade
Não viver a vida com uma atitude positiva
Não pensar que podemos ser melhores
Não sentir que sem si, este mundo não seria igual


Pablo Neruda

Monday, March 21, 2011

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê o melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.

Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.


Pablo Neruda

Wednesday, March 2, 2011

...

grito em silêncio, tão alto
tão alto, que me abafa o ser
eu próprio já não me ouço

não fosse o sorriso inocente de quem me faz sorrir
e podem crer
que eu já não cria absolutamente em nada

apercebo-me que definitivamente só o meu corpo deve ser deste planeta
minh'alma, meu coração,
são compostos dum outro mundo qualquer
a imensidão do que me faz sorrir é tão simples
a realização, o reconhecimento de Maslow é para mim tão simples como fazer sorrir quem amo
ai sim, sinto-me realizado
aí sim, sinto reconhecimento

mas na verdade
não sou espada em nenhuma guerra, por quem se lute ou por quem se queira  lutar
não sou reflexo em nenhum olhar
a imensidão do meu coração
é o que me faz
e o que me destrói
é a arma com que me matam

Thursday, February 17, 2011

last night

e se esta fosse a tua última noite?
sentiriam as aves antes de partires?
choraríamos nós quando deitassem o teu corpo no solo pesado?

se esta for a tua última noite
sabes
nada ficará na mesma a partir de hoje!

esta
é
una homenagem
ao homem que nos viu crescer na velha casa

dos desalinhos
às incansáveis cócegas
dos dejeitos de carinho
à dedicação por quem abriu o coração

a ti
que optaste por entrar
numa nova vida
longe dum passado
que talvez viva apenas na memória que tiveste outrora

se esta for a tua última noite
leva contigo recordações doces de quem te vê partir

se esta for a tua última noite
que se ergam as sementes que plantaste
e cresçam flores na nossa memória
para nos colorirem a alma
por tudo o que interessa recordar

se esta for a tua última noite
sei que levas contigo a beleza deste mar azul
e o farol da noite
a Lua
seria o teu guia
para as portas
dum céu tranquilo
onde te aguarda a paz
por todos os instantes
e todos os gestos
de todo o teu coração
escondido por detrás
desta prisão da vida não fácil
cheia de opções
por vezes sem direcção

se esta for a tua última noite na Terra
que se soltem os pirilampos
que o vento te leve
e te traga
sempre que volte
e nos faça recordar

se esta for a tua última noite
vai
e descansa

Tuesday, January 25, 2011

sorri

nega-me o pão, o ar
a luz, a primavera
o sol, o verão
a lua e as estrelas
mas nunca o teu sorriso
porque então
morreria

Monday, January 24, 2011

já a noite caiu. eu estou aqui sozinho
no carro, fechado
ninguém comigo
nada
por detrás das janelas, vazias
sonho
sonhos que existem em mim
para lá das janelas
o mar
ninguém comigo
nada
nem o bater das ondas
nem a espuma
nem a frescura da água
nem o calor do incêndio
nada
o mundo passa lá fora
o vento e a brisa
os peixes mortos e os vivos
os navios que partem e os que chegam
ouço lá fora
os gritos
as gargalhadas
confidências de amor do carro do lado
o canto dos passarinhos nocturnos
o ruído que passa
todos passam lá fora
e comigo
ninguém, nada
e os gritos de ódio
e a raiva que escorre pelos cantos da boca
seres vazios
homens vazios
que riem ou que choram
a beleza dos astros
todos lá fora
todos para além de mim
e para dentro de mim
e comigo
ninguém, nada
não tenho fome
nem frio
nem gozo nem vivo
sofro e amo
e estou preso
nesta prisão que criei
porque eu me prendi
porque me prenderam
porque não quero seguir caminhos já feitos
trilhos abertos
porque não quero ter compaixão
por quem não possa socorrer
porque não quero mais lutar
nas inconstâncias do ser
porque não quero a vossa luz
nem o vosso caminho
nem a luz
nem o caminho
NEM esquecer
prefiro a escuridão desta minha prisão
ficar fechado neste sonho
só quero sonhar
aqui
onde não chega o barulho do mar
e aqui
ninguém comigo, NADA
só a escuridão
e nada aqui entra
neste sonho em que me prendi

Wednesday, January 19, 2011

não te humilhes estendendo a mão à caridade alheia
passa,
passa altivo
mostrando com escárnio as tuas chagas

orgulho

orgulho-me de ti
no teu eu, porque te chamas assim
no teu eu, porque és assim
orgulho-me de ti
quando sorris
quando os teus olhos brilham
e o horizonte não tem fim
quando mordes os lábios
e o coração palpita
orgulho-me de ti
quando sonhas
quando caminhas
quando alcanças
orgulho-me de ti
no teu jeito de quem sabe o que quer
no teu jeito de quem passou sem se ver
orgulho-me de ti
pela forma como dás
pela forma como amas
pela forma como te revoltas
pela forma como recebes
orgulho-me de ti
por ti

Monday, January 17, 2011

terra dos sonhos

nesta noite queria partir
não sei para onde
a minha mão tímida procurou acabar
a carícia
de um carinho inacabado
e os meus olhos procuraram
para além dos teus
a ternura de que sentem falta
não sei para onde
sei que queria partir
para não sei onde
onde o querer é sonho
e o sonho é existir

Friday, January 7, 2011

A Noite na Ilha

“Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha. 
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, 
entre o fogo e a água. 
Talvez bem tarde nossos 
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
em baixo como raízes vermelhas que se tocam. 
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado 
e teus olhos buscavam o que agora - pão, 
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos, 
porque tu és a taça que só esperava 
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira, 
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos, 
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura. 
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca 
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida, 
e recebi teu beijo molhado pela aurora 
como se me chegasse do mar que nos rodeia.” 

Pablo Neruda