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Friday, October 15, 2010

Sou

Sou o que sabe não ser menos vão que o vão observador que frente ao mudo vidro do espelho segue o mais agudo reflexo ou o corpo do irmão
Sou, tácitos amigos, o que sabe que a única vingança ou o perdão é o esquecimento, um deus quis dar então ao ódio humano essa curiosa chave
Sou o que, apesar de tão ilustres modos de errar, não decifrou o labirinto singular e plural, árduo e distinto do tempo, que é de um só e é de todos
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada na guerra
Um esquecimento, um eco, um nada

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"